O amor (na sala de) espera

Jovens se conheceram durante tratamento odontológico, namoraram a distância por cinco anos e hoje, têm uma filha juntos

Março de 2010

Thayrine de Campos, ao longo de 17 anos de vida, já havia percorrido inúmeras vezes os 265 quilômetros que separam as cidades catarinenses de Timbé do Sul, onde morava, e Florianópolis. As viagens duravam, em média, três horas e meia. Desta vez, Thayrine estava acompanhada de seu pai, Luiz Campos, e também da sensação de que a ida até a capital de Santa Catarina estava demorando muito mais que o habitual. 

O motivo da inquietação tinha nome e sobrenome: Antonio Campos, de 18 anos. As coincidências do destino, que pareciam tentar insistentemente formar o casal, começaram com os sobrenomes e os acompanharam ao longo da vida. Depois de 90 dias namorando pela internet, eles iriam, enfim, se encontrar pessoalmente. Do outro lado dessa história, o jovem Antonio também precisava viajar para ver a namorada. No caso dele, foram percorridos 230 quilômetros que separavam sua residência, em Lages, da capital Florianópolis. 

*Imagens captadas em 2019

A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), uma velha conhecida dos dois, serviria novamente como ponto de encontro. Ao longo da infância e adolescência, eles se esbarravam com frequência na sala de espera do Núcleo de Atendimento a Pacientes com Deformidade Facial (NAPADF).

Por possuírem uma má formação genética chamada lábio leporino, os dois realizavam o tratamento no Núcleo desde o primeiro ano de vida. “Eu conheço ele desde que me entendo por gente”, conta Thayrine. Os anos de convivência, as coincidências do destino e os encontros do casal - mesmo que rápidos e esporádicos - despertaram um sentimento mútuo de cuidado, carinho e amor.

Lábio leporino e fenda palatina são definidos como anomalias congênitas, ou seja, são problemas que ocorrem durante o desenvolvimento do feto na gestação. Essas malformações podem acontecer no lábio (lábio leporino), na gengiva, nos dentes, no maxilar superior, no palato (fenda palatina) e no nariz. 

Quando isso ocorre, a má formação impede que uma ou várias dessas partes do corpo se fechem de maneira correta, provocando o aparecimento de uma ou duas fendas. O que define a extensão da fissura é o período gestacional em que a má formação acontece, sendo que esses dois elementos são inversamente proporcionais: quanto mais cedo a má formação se apresenta, maior será a fissura provocada. 

Ainda não estão claros quais os fatores que provocam o lábio leporino e/ou a fenda palatina, mas acredita-se que alguns elementos podem influenciar, como por exemplo: predisposição genética, radiação, obesidade, fumo e estresse. Dependendo da extensão que a anomalia atinge, ela pode provocar de alterações estéticas a problemas respiratórios, de fala, nutrição, audição, modificação nos dentes, entre outros. 

O tratamento é longo e dividido em várias etapas, acompanhando o desenvolvimento do indivíduo, e pode envolver diversos profissionais, tanto da odontologia quanto de outras áreas como cirurgia plástica, fonoaudiologia, nutrição e psicologia. Estão inclusos nesse processo a colocação de aparelhos ortodônticos, realização de cirurgias plásticas, de implantes e de enxertos. 

Durante os primeiros anos de vida os procedimentos são mais intensos. O tratamento acaba quando o paciente é adulto, ou seja, está com sua estrutura corporal completamente desenvolvida e todos os recursos de tratamento se esgotaram. De acordo com o Ministério da Saúde, em média, a cada 650 nascidos, um possui a anomalia.

Enquanto as lembranças do passado e as expectativas para o futuro preenchiam a mente de Thayrine, a viagem chegou ao fim. Junto com seu pai, ela caminhou a passos firmes e apressados até a sala de espera do NAPADF. Sentou no banco de madeira e esperou por alguns minutos que pareciam intermináveis. Com o coração batendo forte, viu Antonio se aproximar. Ele sorriu de longe, cumprimentou-a com um beijo no rosto e a convidou para dar uma volta pela universidade. Ansiosos, os dois saíram porta afora conversando. A mão de Antonio envolvia a mão levemente trêmula de Thayrine.

Os estudantes e professores distraídos que passaram pelo casal nem imaginavam a importância do que estava prestes a acontecer. Depois de alguns minutos caminhando, Antonio e Thayrine encontraram um local mais tranquilo, longe do agito dos universitários. A conversa que até então tinha fluído naturalmente se transformou em silêncio. Eles ficaram frente a frente e se encararam com ternura por alguns segundos. E, assim, depois de tanta espera e ansiedade, o primeiro beijo aconteceu. 

Eles se olharam e soltaram uma risada boba. Devagar, Antonio tirou do bolso um pequeno pacotinho branco e entregou a ela. Logo depois, num misto de orgulho e impaciência, disse:

- A minha já está no dedo!

Sem entender muito bem o que estava acontecendo, Thayrine abriu o pacotinho e se deparou com uma aliança. A cor era prata e o nome Antonio estava - peculiarmente - gravado do lado de fora. Ele pegou com delicadeza a mão direita dela e colocou a aliança no dedo anelar. 

Logo em seguida, voltaram para o prédio das Clínicas Odontológicas, localizado no Centro de Ciências da Saúde da UFSC. Lá dentro, se dirigiram até o consultório do NAPADF. Os dentistas, que estavam a par da situação, fizeram questão de atender o casal em cadeiras odontológicas lado a lado. 

Depois da consulta, Antonio também tinha a intenção de pedir para o pai da garota, Seu Luiz, a mão dela em namoro. Para isso, precisava ficar a sós com o futuro sogro. Para ajudar o namorado, Thayrine colocou seu plano em ação: enquanto Antonio aguardava do lado de fora da sala de espera do NAPADF, Thayrine insistia para que seu pai a acompanhasse até o banheiro. Quando Luiz viu Antonio esperando do lado de fora, exclamou: “Acho que vocês estão me aprontando!”.

O plano foi um sucesso. Antonio pediu a Luiz permissão para namorar com Thayrine e o sogro concordou. A estratégia contou ainda com uma ajudinha materna. Celina Campos, mãe de Thayrine, era quem geralmente acompanhava a filha nas consultas no NAPADF. Sabendo das intenções do futuro genro, Celina fingiu estar doente para que, dessa vez, Luiz fosse junto com a garota.

Depois de todas essas emoções, o casal se despediu. A distância voltaria a separá-los durante os próximos meses. Thayrine sabia que o tempo longe de Antonio seria difícil, mas a certeza de revê-lo em breve enchia a jovem de esperança. Foi através do NAPADF que eles se conheceram, e seria através desse porto seguro que eles poderiam continuar se encontrando.

*Imagens captadas em 2019

*Imagens captadas em 2019

Porto seguro

O ano era 1986 e o então formando no curso de odontologia da UFSC, Roberto Rocha, foi um dos organizadores de um evento chamado Ciclo de Estudos Odontológicos. Professores de diversos lugares do Brasil foram chamados para participar como palestrantes. Um dos convidados, o professor de ortodontia do departamento de odontologia da Universidade de São Paulo (USP) Omar Gabriel da Silva Filho compartilhou suas experiências. Na época, Omar atuava no Hospital de Reabilitação e Pesquisa de Lesões Lábio Palatinas, localizado em Bauru, São Paulo. O hospital era (e é até hoje) considerado o maior centro de referência do país no tratamento deste tipo de deformidade. Atualmente a instituição chama-se Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais, conhecido popularmente como “Centrinho”.

No evento, Roberto ficou sabendo que no ano seguinte, em fevereiro de 1987, haveria um concurso público para a vaga de residente no Centrinho. Ele foi aprovado, se mudou para São Paulo e cursou por dois anos a pós-graduação em Ortodontia Preventiva e Interceptativa. “Na estrutura do hospital da USP, vislumbrei como a organização pode produzir resultados eficazes, especialmente nessa situação tão delicada das crianças e das famílias que ficam fragilizadas quando são acometidas por essa deformidade. Foi uma experiência brilhante, apaixonante e encantadora”, relata Roberto. Quatro anos depois, em 1991, se tornou mestre em ortodontia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 

De volta a Florianópolis, foi aprovado no concurso para professor substituto de ortodontia na UFSC. Graças às suas experiências anteriores, ele foi convidado a participar do serviço de atendimento a pacientes fissurados no Hospital Infantil Joana de Gusmão. Entretanto, a estrutura lá era muito pequena, precária e burocrática. “Ao mesmo tempo que eu estava muito animado por participar dessa iniciativa, eu também comecei a experimentar uma certa frustração”, conta.

Foto: Renan Schwingel

Foto: Renan Schwingel

Foto: Renan Schwingel

Foto: Renan Schwingel

Foto: Renan Schwingel

Foto: Renan Schwingel

Item 1 of 3

Foto: Renan Schwingel

Foto: Renan Schwingel

Foto: Renan Schwingel

Foto: Renan Schwingel

Foto: Renan Schwingel

Foto: Renan Schwingel

O sentimento motivou o dentista e professor a levar o atendimento dos pacientes fissurados para dentro da UFSC. Em 1994, com a ajuda da professora entusiasta Daniela Lemos Carcereri, da área de odontopediatria, e do então coordenador de curso Gilsée Ivan Reges Filho, isto finalmente se tornou realidade. Dois anos depois, o atendimento foi oficializado com a fundação do projeto de extensão chamado Núcleo de Atendimento a Pacientes com Deformidade Facial (NAPADF). 

O Núcleo proporciona um retorno direto à sociedade através do tratamento gratuito e de qualidade para os pacientes com deformidade facial, e também contribui para a formação dos estudantes de odontologia da UFSC. Sob a supervisão e tutoria dos professores Roberto Rocha, Carla Miranda e Dalto Ritter, os alunos podem ter a experiência do atendimento clínico específico de pacientes fissurados. Os estudantes que estão habilitados a participar do NAPADF são aqueles que estão no 3°, 9° e 10° semestre do curso, sendo que os veteranos efetivamente atendem os pacientes enquanto os calouros prestam auxílio.

2005

O ano era 2005. O calouro no curso de Odontologia da UFSC, Rodrigo Leal Machado, começava a trajetória universitária. O amor e a dedicação à Odontologia correm nas veias da família há anos. O avô, a tia e o irmão de Rodrigo se formaram no mesmo curso na universidade. “Eu vou fazer isso aí porque deve ser bom e está no sangue (risos). Eu tinha essa fascinação por odonto de família”, conta. Desde o início da graduação, ele se sentiu atraído pela ortodontia. 

Cinco anos depois, iniciou o curso de especialização na área, cuja parte prática era desenvolvida no NAPADF. Thayrine foi uma das pacientes atendidas por Rodrigo durante os três anos que cursou a pós-graduação. Na época, o curso era pago: os alunos contribuíam com um valor de matrícula e mensalidade, sendo que o recurso subsidiava o funcionamento do Núcleo. Entretanto, o Ministério Público Federal protocolou uma ação cível pública contra a universidade, alegando que a cobrança seria ilegal. Em 2016, a UFSC parou com a arrecadação de verbas desta modalidade e, consequentemente, a pós-graduação em ortodontia foi extinta. 

De acordo com Rodrigo, são raros os cursos de ortodontia que dão a oportunidade do estudante atender pacientes com deformidade facial, especialmente porque esse tipo de tratamento é mais complexo que os convencionais. A capacitação oferecida pelo NAPADF se torna um diferencial no mercado de trabalho. Graças a suas experiências junto ao projeto, o dentista se considera apto para atender estes pacientes. 

"Fazemos a diferença sem notar"

- Rodrigo Leal Machado

Foto: Renan Schwingel

Foto: Renan Schwingel

No Núcleo, os responsáveis por marcar as consultas são os próprios alunos. Assim que Rodrigo foi designado para atender Thayrine, o professor Roberto contou a ele sobre o romance entre ela e Antonio. A par dessa situação, o aluno continuou marcando os atendimentos dos dois para o mesmo dia. Quando os atendimentos aconteciam, Rodrigo “percebia que ela [Thayrine] vinha sempre bem arrumada, pronta pro date (risos)”.

Na visão de Rodrigo, a convivência entre pacientes, professores e alunos faz com que laços de amizade, respeito e carinho se formem no Núcleo. O dentista acredita que, às vezes, os alunos estão tão focados no aprendizado, que acabam não tendo a noção exata do impacto causado por eles na vida dos pacientes. “Fazemos a diferença sem notar naquele momento. Hoje em dia, vejo que o tratamento gerou um benefício funcional, de fala, estético, e também na vida deles [Antonio e Thayrine]. São duas pessoas que se encontraram, casaram, e que estão felizes por causa de um encontro ocorrido na época”, relata. Além de Rodrigo, os então alunos Jonas Valmorbida, Caroline Stanguerlin e Manuela Zasso também colaboraram para o namoro de Antonio e Thayrine.

*Imagens captadas em 2019

*Imagens captadas em 2019

1990

Com os recursos médicos disponíveis quando os bebês Antonio e Thayrine nasceram, suas mães, Stelamaris e Celina só ficaram sabendo que os filhos possuíam lábio leporino e fenda palatina depois do parto. “A gente nunca tinha visto uma situação assim, naquela época a gente se desesperou”, lembra Celina. Nas duas situações havia parentes que possuíam lábio leporino e/ou fenda palatina: no caso de Antonio, o pai;  no de Thayrine, um tio-avô. 

Para as mães, momentos distintos marcaram a trajetória dos filhos durante o tratamento. Para Stelamaris, foi quando o filho, aos 13 anos, teve complicações numa cirurgia. Na ocasião, foram retirados alguns fragmentos de ossos do quadril do garoto, para serem enxertados na região da mandíbula. A recuperação não saiu como planejado e o corpo de Antonio rejeitou o enxerto, ele teve que refazer a cirurgia. Como a primeira operação não deu certo, em princípio, ele não estava disposto a tentar novamente. “Foi bem difícil, bem complicado, a gente conversou bastante com ele para poder fazer pela segunda vez”, relembra. A segunda cirurgia foi bem sucedida.

Thayrine aos 9 meses, antes da cirurgia de fechamento das fendas do lábio. Foto: Arquivo Pessoal.

Thayrine aos 9 meses, antes da cirurgia de fechamento das fendas do lábio. Foto: Arquivo Pessoal.

Thayrine aos 9 meses, antes da cirurgia de fechamento das fendas do lábio. Foto: Arquivo Pessoal.

Thayrine aos 9 meses, antes da cirurgia de fechamento das fendas do lábio. Foto: Arquivo Pessoal.

Para a mãe Celina, a situação mais memorável do tratamento foi quando as duas fendas do lábio de sua filha foram fechadas. Na época, Thayrine tinha nove meses de idade, e essa foi sua primeira cirurgia. “Lá no hospital quando eles levaram a gente para vê-la, nem acreditamos! Quando chegamos em casa foi emocionante, porque a família toda tinha visto a boca dela toda aberta, e ela estava com a boquinha fechada”, conta Celina. 

Como as famílias residiam em cidades interioranas, Timbé do Sul e Lages, os médicos encaminharam as crianças ao NAPADF, em Florianópolis. Para poder realizar os atendimentos, mães e filhos tinham de viajar constantemente. Como o tratamento é longo e complexo, eles se encontravam com frequência no Núcleo. Inevitavelmente, elas se conheceram e os pequenos Antonio e Thayrine passaram a brincar juntos na sala de espera. Quando a adolescência chegou, um clima de timidez e flerte também passou a fazer parte desses encontros.

Mães sabem das coisas. Geralmente, sabem antes mesmo dos filhos sequer pensarem sobre o assunto. Com Celina e Stelamaris não foi diferente, elas já tinham percebido o clima de romance entre seus filhos.

“A gente já imaginava. A Thayrine ficava dando umas olhadinhas e eu perguntava: ‘o que é que está acontecendo, filha?’ E ela: ‘nada mãe!’. Depois, quando ela me contou que estava conversando com o Antonio pela internet, eu disse: ‘ah, eu já desconfiava, bichinha!’”, conta. Stelamaris também tinha suas suspeitas: “pelo jeito dos dois se olharem a gente já ficava se perguntando será que vai ser namoro mesmo ou não?”, afirma. A partir do momento em que o namoro se tornou oficial, as famílias passaram a se conhecer ainda mais e compartilhar um laço de parentesco. 

"A gente já ficava se perguntando: 'Será que vai ser namoro mesmo ou não?'"

- Stelamaris

Outra situação curiosa que marca a história do casal, ocorreu quando fizeram a cirurgia plástica no nariz. Mesmo sem combinar, os dois se esbarraram novamente. Na época, a garota tinha 16 anos e o garoto, 17. Stelamaris estava internando o filho quando encontrou Celina junto à filha. As duas se reconheceram e compartilharam ansiedades referentes à cirurgia, pois Thayrine já havia saído do centro cirúrgico, enquanto Antonio estava se preparando para realizar o procedimento. Ele foi visitá-la em seu quarto, mas Thayrine fingiu estar dormindo. Depois do encontro inesperado, eles pensaram a mesma coisa: “Nossa, você aqui! De novo!”.

Thayrine e Antonio foram pacientes do NAPADF por aproximadamente duas décadas. Nesse período, fizeram inúmeras viagens, realizaram diversas cirurgias (18 no caso dele e 12 no dela), utilizaram vários aparelhos ortodônticos, e fizeram muitos, muitos procedimentos. Nessa longa caminhada, mães e filhos reconhecem a importância do Núcleo para a realização completa do tratamento. “Para nós foi ótimo, foi bem importante, fomos bem atendidos todas as vezes”, relata Stelamaris.

2021

Atualmente, Antonio tem 28 anos e Thayrine, 27. Em dezembro de 2019, eles completaram bodas de zinco. São 10 anos juntos, considerando o tempo de namoro e casamento. Durante os primeiros cinco anos, eles namoravam a distância e se encontravam principalmente no NAPADF.

Conforme o relacionamento foi ficando mais sólido, os namorados passaram a visitar um ao outro em suas cidades natal: Lages e Timbé do Sul. Para isso, era necessário um malabarismo logístico. Faziam da seguinte forma: Antonio e Thayrine se deslocavam com os carros da Secretaria de Saúde de seus municípios até Florianópolis. Na capital catarinense, realizavam as consultas no Núcleo e retornavam juntos para Lages ou Timbé do Sul com os respectivos veículos. 

Quando Antonio completou 18 anos, tirou a carteira de motorista e as viagens para visitar a namorada se tornaram mais frequentes. Nesse meio tempo eles se comunicavam pela internet, por meio de redes sociais hoje em dia extintas, como MSN e Orkut. Atualmente, no Facebook, o nome de perfil utilizado por ela é Thayrine E Antonio; e na página dele, uma foto do casal ilustra o perfil. 

Durante esse tempo em que ficaram namorando a distância, Thayrine se formou em Serviço Social na Universidade Uniasselvi. Depois de formada, passou no concurso de assistente social para trabalhar em Palmeira, cidade próxima a Lages. Cinco meses depois da aprovação, foi chamada para assumir a vaga. Com a convocação repentina, mudou-se às pressas para Lages, em fevereiro de 2015. Apesar de não terem formalizado a união, eles se consideram casados desde o momento em que passaram a compartilhar a mesma casa. 

Depois de alguns anos, o casal começou a tentar ter um filho. Eles buscaram auxílio médico e Thayrine foi diagnosticada com um cisto no ovário. De acordo com o ginecologista que a atendeu, essa condição poderia provocar dificuldades e o casal provavelmente teria que recorrer a métodos de inseminação artificial ou outros tratamentos para conseguir uma gestação.

Um mês depois da consulta, Thayrine começou a se sentir muito enjoada e a apresentar um sangramento, que em princípio, foi associado, por ela, à menstruação. Apesar do diagnóstico, o pensamento “será que não é gravidez?”, passou algumas vezes por sua mente. Essa ideia ganhou ainda mais força ao recordar que uma semana antes, quando o casal havia visitado uma benzedeira, a mulher havia feito perguntas sobre maternidade e filhos.

Para tirar a dúvida, Thayrine fez um teste de farmácia. O resultado: positivo. Mesmo com a confirmação, no mesmo dia fez um exame de sangue: positivo também. Ela estava grávida de aproximadamente seis semanas. Por conta do sangramento, que afinal de contas não era menstruação, Thayrine consultou um médico e ficou de repouso. 

Normalmente, em uma gestação, os níveis do hormônio HGC (gonadotrofina coriônica humana) são crescentes e indicam o desenvolvimento do bebê. No caso de Thayrine, os exames indicavam oscilações positivas e negativas, o que deixou o casal apreensivo. No período, ela teve um sonho com um bebê chamado Emanuel, cujo nome significa Deus conosco. “Interpretei como um sinal de que ficaria tudo bem”, afirma. Com o passar do tempo, a situação se estabilizou e Antonio e Thayrine descobriram que estavam à espera de uma menina. O nome, então, foi adaptado para Emanuely.  

Por conta da pandemia de Covid-19, a família ficou sabendo da gravidez por ligações telefônicas e chamadas de vídeo. Uma preocupação frequente dos familiares e também do casal era a possibilidade da bebê ter lábio leporino ou fissura palatina. Antes de engravidar e também durante a gestação, Thayrine tomou comprimidos de ácido fólico, deu especial atenção à alimentação e evitou o consumo de bebidas alcoólicas para prevenir que a bebê tivesse a mesma má formação congênita que os pais. 

“Se a bebê viesse com a má formação não teria pai ou mãe melhor do que a gente. Nós já sabíamos como era, qual era o caminho a percorrer. Por conta de tudo que vivemos, a primeira coisa que pensamos foi levar no NAPADF”, afirma Thayrine. No quinto mês de gestação, o ultrassom revelou: a bebê não tinha lábio leporino e nem fissura palatina. Quatro meses depois, no dia 24 de junho de 2021, às 9h10 da manhã, Emanuely veio ao mundo para completar a história que começou na infância, numa sala de espera.