ODONTOLOGIA LEGAL
Cirurgião-dentista e investigador
Uma das especialidades no campo das ciências forenses é a odontologia legal, área de atuação exclusiva do cirurgião-dentista. Por meio da realização de exames em arcadas dentárias e perícias, esse profissional está apto a produzir laudos técnicos, relatórios e atestados que auxiliem na identificação de corpos, traumatologia odontolegal, balística forense, análise de marcas de mordida, exames por imagem e de vestígios de manchas ou líquidos na cavidade bucal, etc.
Segundo ressalta Beatriz Barros, professora do Departamento de Odontologia da UFSC e membro da Diretoria Executiva Nacional da Associação Brasileira de Ética e Odontologia Legal (Abol), a atuação da odontologia legal pode ocorrer na perícia em foro civil, criminal e trabalhista. A docente recorda que a odontologia legal no Brasil surgiu há cerca de cem anos, fruto do trabalho de Luiz Lustosa da Silva. O autor publicou diversas obras ao longo de sua vida acadêmica, com destaque para o pioneiro livro Odontologia Legal, publicado em 1924.
Somente uma década depois, o Congresso Nacional de Identificação Humana, promovido em São Paulo, reconheceu a importância da análise dentária, juntamente com a dactiloscópica (análise das impressões digitais), incentivando os dentistas a possuírem fichas odontológicas completas para uma possível identificação. Até hoje a documentação de tratamento dentário é importante para esse tipo de averiguação.
Atualmente, além de uma produção científica em crescimento, a odontologia legal brasileira conta com um grande número de especialistas, professores, pesquisadores e peritos odontolegistas em institutos médico-legais (IMLs) e nos cursos de pós-graduação. Para Beatriz, este avanço tem sido potencializado com ações da principal entidade de classe da especialidade: a Abol. Fundada em 10 de outubro de 1996, a Associação congrega docentes das áreas de Odontologia Legal, Bioética e Ética, Peritos Criminais e Odontolegistas.
Mordida condena famoso serial killer
Um dos mais conhecidos serial killers da história teve seu destino decretado em virtude de uma mordida. Em 1979, Ted Bundy foi condenado graças à marca encontrada nas nádegas de uma de suas vítimas. Depois de uma história repleta de versões e fugas, Bundy foi responsabilizado pelo estupro e morte de 35 mulheres.
Não há um consenso sobre onde ou quando ele iniciou a atividade criminosa. O assassino contou diferentes versões a policiais, psicólogos e advogados, além de se negar a dar detalhes sobre seus primeiros crimes. Assim, os primeiros homicídios registrados remetem a 1974, quando ele tinha 27 anos.
A grande maioria de suas vítimas tinha a aparência semelhante a uma ex-colega da Universidade de Washington, Stephanie Brooks, com a qual teve um envolvimento. Todas eram mulheres brancas, com idade até 25 anos, de classe média, com cabelos castanhos longos e lisos.
Bundy foi detido algumas vezes e conseguiu escapar da polícia em duas oportunidades. Chegou a ser julgado em tribunais nos estados da Flórida, Utah e Colorado. Seus casos tiveram uma cobertura massiva da imprensa e, em todos, ele foi o principal responsável pela própria defesa. A sua arcada dentária, contudo, teve um papel fundamental na condenação, ao ser considerada a prova mais incriminadora pelo júri.
Uma de suas vítimas foi encontrada com uma marca de mordida nos glúteos. Bundy possuía uma mordida peculiar, uma vez que seus dentes inferiores eram tortos e seu incisivo superior, lascado. O dentista forense Richard Souviron foi chamado pela defesa e comparou uma fotografia dos dentes do criminoso com uma imagem da marca deixada no corpo, demonstrando que eram exatamente iguais.
No dia 24 de julho de 1979, o júri analisou o caso durante quase sete horas e considerou Theodore Bundy culpado pelos homicídios de Margaret Bowman e Lisa Levy, bem como de outras três tentativas de homicídio. Bundy foi condenado à pena de morte em cadeira elétrica e ficou na prisão estadual da Flórida até o dia da execução, quase dez anos depois, em 24 de janeiro de 1989.