QUÍMICA FORENSE
A química do crime
Egresso da UFSC, o bacharel em química Jair Silveira Filho trabalha hoje para a Polícia Científica de Santa Catarina. No currículo, tem passagem pelo setor de química forense, atuando na identificação de drogas sintéticas, análise de resíduos de incêndio, adulteração de bebidas alcoólicas e identificação de amostras desconhecidas. Atualmente, desempenha suas funções no setor de toxicologia forense, onde é chefe de divisão.
"Recentemente tivemos a descoberta do maior laboratório de drogas sintéticas já encontrado no estado e a maior apreensão de drogas sintéticas do Brasil, o que resultou em dezenas de análises e na elaboração de laudos complexos, descrevendo toda a rota sintética utilizada na produção", revela Jair. Ele é autor de dois artigos publicados em revistas internacionais sobre drogas sintéticas: New psychoactive substances (NPS) prevalence over LSD in blotter seized in State of Santa Catarina, Brazil: A six-year retrospective study e Seizures of Clandestinely Produced Tablets in Santa Catarina, Brazil: The Increase in NPS from 2011 to 2017.
O perito explica que, de maneira geral, a química forense pode ser definida como a área das ciências forenses responsável pelo desenvolvimento e aplicação de metodologias analíticas na identificação, detecção e quantificação de substâncias químicas. Além da utilização na análise de drogas ou bebidas, pode também ser empregada no exame de venenos, medicamentos, acelerantes de incêndio, tintas, polímeros, etc. Ele recorda que este campo de estudo teve sua origem por volta de 1850 a partir do trabalho do francês Jean Stas.
Stas ajudou a desvendar um assassinato ocorrido no Chateau de Bitremont, na Bélgica. A vítima Gustave Fougnies era cunhado de um conde da região, Visart de Bocarmé. O conde e sua esposa, irmã de Gustave, teriam extraído óleo da planta do tabaco e obrigado a vítima a ingerir a substância, causando a morte por envenenamento. Para provar a consumação do crime, a polícia solicitou a assistência de Stas. O químico conseguiu desenvolver um método para detectar a nicotina nos tecidos do cadáver, fator que levou a condenação do conde por assassinato e, no ano seguinte, sua execução na guilhotina.
Realidade catarinense
Especialista em Química de Petróleo pela Universidade Petrobras, Jair é professor da Academia de Polícia Civil de Santa Catarina (Acadepol) e da Academia de Perícia do estado (Acape). Já ministrou palestra no Colégio de Aplicação da UFSC para explicar aos alunos como funciona um laboratório forense. Segundo ele, a Universidade realiza parcerias pontuais com a Polícia Científica.
"Em determinados casos, mais complexos, a Polícia Científica recorria à UFSC para a utilização de algum equipamento que nós não tínhamos. Também disponibilizamos vagas de estágio para alunos da UFSC, que por muitas vezes realizam trabalhos e estudos utilizando nossos dados", afirma.
Jair acredita que a realidade da ciência forense de Santa Catarina desenvolveu-se nos últimos anos. Para ele, existem mais similaridades do que diferenças em relação ao que vemos na TV na execução da atividade. "As principais semelhanças seriam na parte de equipamentos e insumos. Temos muitos equipamentos semelhantes aos utilizados nos órgãos periciais dos Estados Unidos e Europa. As diferenças, contudo, seriam a falta de pessoal e algumas condições de infraestrutura", completa.