Rubiana Ventura:
o sonho de maternar

Rubiana Ventura:
o sonho de maternar

Quantas vezes na vida falamos "mamãe", "mãe", "mama" ou "mãinha", seja para reclamar de fome, sede, ou seja porque nos sentimos só e queremos saber onde ela está?

Rubiana Ventura da Cruz não passou por essa experiência. Aos 30 anos, a profissional de vendas nunca chamou ninguém de mãe. A história oficial é que o câncer levou a sua, mas a verdade é que a mulher que a gestou já parecia ter desistido de viver antes de partir de fato.

— Parece que a Rubiana sente que não vai ser criada pela mãe — diziam alguns vizinhos, que achavam estranhas as crises de choro que a bebê tinha sempre que ficava perto da mulher a qual deveria acalmá-la.

Quando estava grávida de Rubiana, Maria do Socorro descobriu que seu marido tinha engravidado outra mulher. O parto da quinta filha foi o mais difícil. Com suspeita de eclâmpsia (convulsões que podem ocorrer durante a gestão ou no pós parto), Socorro teve a bebê de cesária. Não chegou a ter complicações físicas para dar a luz, mas talvez emocionais, nunca diagnosticadas.

Ironicamente, Socorro recusou ajuda. Não queria orações, fugia dos hospitais, não tomava as medicações. Além da hepatite, possivelmente o que levou ao câncer de fígado, a tristeza da traição tirou a vontade de lutar. Três anos depois, faleceu.

A avó paterna, Nair, fez o que pôde para criar os cinco netos, que assumiu praticamente sozinha. Dizia que as crianças não eram cachorros para serem distribuídas entre os outros parentes, como a família paterna sugeriu. Protegeu, alimentou e abrigou as crianças do melhor jeito que conseguia. Ainda assim, sempre foi a vó. O título de mãe ficou reservado para Socorro.

Com a chegada de sua única filha, Mariana, Rubiana transforma a falta que sentiu em dedicação, para que nunca lhe falte o principal: a presença.

Não foram festas de aniversários pomposas, nem brinquedos ou roupas de marca que fizeram falta enquanto crescia. Quando pensa o que poderia ser diferente se tivesse sua mãe viva, Rubiana fala em compreensão. Sempre imaginou que encontraria na figura materna uma amiga, alguém para quem pudesse contar suas angústias, curar suas feridas, orientar sobre as mudanças de seu corpo de menina para mulher, dar conselhos sobre namorados, ajudar ou mesmo dar dicas de maternidade nesta nova fase.

Hoje, Mariana recebe tudo que Rubiana não teve: colo, abraços, beijos, passeios no parque, comemorar a vida a cada ano.

Quando pedimos para enviar fotos de sua vida, o destaque não foi para sua mãe, avó, ou irmãos. Os momentos que Rubiana mais se orgulha e quer mostrar é quando exerce o papel de sua vida: o de mãe. A pequena Mariana é o centro das fotografias e o motivo dos sorrisos.

“É difícil escolher a que eu mais gosto. Temos várias fotos, ao contrário de mim, que não tenho nenhuma com minha mãe. Sinto que estou sendo para Mariana a mãe que ela seria para mim. Tenho feito tudo que eu posso, sem medir esforços para cuidar dela”.