Um dia antes de o governo colombiano decretar quarentena no país, em março de 2020, a brasileira Karine Martins, de 23 anos, passou por uma situação constrangedora em Medellín, que já dava indícios do caos que seria a pandemia. Tudo começou quando ela e o namorado Lucas, de 24 anos, saíram de casa para ir ao mercado no bairro Laureles. Chegando no estabelecimento, enquanto faziam as compras normalmente, avistaram uma mulher que falava de forma exaltada e vinha caminhando em direção a eles. Ao se aproximar, ela desferiu um tapa nas costas de Karine. Na hora, o casal ficou surpreso, sem entender nada do que tinha acabado de acontecer e qual a motivação que estaria por trás dos xingamentos e da agressão. Meses depois, ao relembrar com mais clareza do episódio, a brasileira observa que a desconhecida repetia várias vezes a palavra “chino” — forma como se referem aos chineses —  e suspeita que foi confundida com uma chinesa, recordando que em outros momentos da vida já foi relacionada ao país, mesmo sem ter qualquer vínculo com o local. 

A atitude de preconceito que Karine viveu retrata um comportamento que se intensificou com o surgimento da covid-19, no qual as pessoas associam a doença à nacionalidade e deixam a xenofobia à mostra. Essa foi a primeira e única vez que a estudante sofreu algo do tipo desde que chegou na Colômbia, em janeiro de 2020, para finalizar o curso de Administração que começou no Brasil. Ela relata, no entanto, que o namorado Lucas também passou por uma situação semelhante na primeira semana de trabalho por lá. Em uma reunião de equipe, convocada pela empresa para anunciar quais seriam as diretrizes adotadas diante da pandemia, os funcionários foram surpreendidos com a orientação de que deveriam evitar falar com estrangeiros. Com a fala do condutor do encontro, os olhares se voltaram para o brasileiro. O tema foi contornado, mas os episódios afetaram a visão que o casal tinha da cidade e a relação deles com os nativos. Antes, eles planejavam permanecer em Medellín mesmo após a conclusão da graduação de Karine, plano que acabou se desfazendo ao longo da quarentena. 

— Eu estava pensando em que empresas aqui eu iria me candidatar, porque a gente ia morar aqui. Era isso, eu não ia voltar! A cidade é perfeita, uma cidade incrível, e a gente tinha muita certeza, e aí as pessoas foram fazendo a gente voltar atrás. 

A oportunidade da estudante fazer intercâmbio na Colômbia veio do vínculo entre a faculdade no Brasil, a FAE Business School, de Curitiba, com a Universidad Pontifícia Bolivariana (UPB), em Medellín, através do programa de dupla titulação. Como ela já havia cursado três do total de quatro anos de Administração, planejava seguir a tradição do curso e terminar o último ano em alguma instituição do exterior. Apesar de a maioria dos colegas escolherem como destino os Estados Unidos e a Europa, Karine optou por não seguir o mesmo caminho. Primeiro, achava caro se manter nesses lugares e, segundo, queria conhecer um pouco mais da América Latina. 

Filha única, Karine nasceu em Guarulhos, região metropolitana de São Paulo, mas não permaneceu muito tempo por lá. Durante a infância morou em várias cidades brasileiras, como Belo Horizonte, Uberlândia e Montes Claros, em Minas Gerais, e Joinville, em Santa Catarina. As mudanças eram motivadas pelo emprego do pai, engenheiro de automação, que naquela época trabalhava com projetos de empresas. Como ele precisava permanecer por pelo menos um ano nas regiões onde alguma fábrica havia aberto, a família o acompanhava quando possível. Às vezes, o trabalho se estendia para o exterior, e nas férias escolares Karine viajava até o destino da vez. Com isso, ainda muito nova, ela pôde conhecer países como Argentina e Chile. 

Apesar das inúmeras mudanças, em Curitiba ela criou raízes de verdade. Lá, terminou o Ensino Fundamental e Médio e ingressou no Ensino Superior. Viu também os pais se separarem. Quando a sua mãe decidiu trocar o Brasil por Portugal há alguns anos, Karine foi viver com o pai. Antes de chegar na Administração, a jovem comunicativa fez dois anos de Ciência da Computação na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Neste período, estagiou na diretoria de recursos humanos em uma empresa júnior, e dessa interação descobriu a paixão pela área. Decidiu então trocar de curso no meio do ano. Primeiro, pensou em prestar vestibular para concorrer em uma universidade pública, mas acabou desistindo da ideia, porque teria que esperar alguns meses até o período da prova. Nesse meio tempo, ouviu falar da FAE e fez a inscrição. 

Em 2019, com a graduação chegando ao fim, Karine começou a avaliar as possibilidades de destinos para o intercâmbio. Tinha um leque de opções e cogitou ir para a Argentina, Chile e México. A Colômbia, porém, parecia ser o melhor lugar naquele momento. No processo de escolha, considerou o custo de vida, facilidade de aprendizagem do idioma e preferência por um país que ainda não conhecia. Entusiasmada com a decisão, ela comunicou a faculdade, e o Núcleo de Relações Internacionais que preparou os trâmites para viabilizar a viagem. Karine conta que foi a primeira estudante da instituição a ir para o país vizinho. Por conta disso, a faculdade brasileira precisou firmar uma parceria com a UPB, o que pode abrir caminhos para os futuros intercâmbios de brasileiros e colombianos.

Desembarque:
o dia a dia na Colômbia

Inicialmente, Karine iria para a Colômbia sozinha, mas em conversa com Lucas, que naquela época fazia estágio em São Paulo, decidiram que viajariam juntos. Ela estudaria e ele trabalharia em uma empresa na área de tecnologia de dados. Antes de partir, Karine foi avisada na universidade que seria um risco participar do intercâmbio sem ter uma certa fluência no idioma, já que poderia reprovar e precisar repetir as disciplinas no Brasil. Mesmo assim, ela resolveu arriscar. 

Os dois desembarcaram em Medellín em janeiro de 2020 e naquela época nem suspeitavam que a pandemia mudaria, em parte, os seus planos. No primeiro mês, se hospedaram em um Airbnb enquanto procuravam um lugar para morar. Depois, encontraram um apartamento de 17 metros quadrados e se acomodaram no pequeno espaço localizado no bairro Laureles, que Karine avalia como um dos mais caros da cidade. Nos dias que se sucederam, foram se adaptando ao novo lar, aos costumes locais e às novas rotinas. O custo de vida, ela avalia, é mais baixo do que na capital paranaense, mesmo com a adição do aluguel, gasto que não tem em Curitiba. Em terras colombianas, conseguiu alugar o imóvel bacana em um bairro nobre e acessível dentro do que poderia pagar. Em geral, ela e namorado gastam cerca de R$ 2 mil por mês com as contas essenciais, que eles bancam com o salário de Lucas e com apoio do pai de Karine.

Com 275 programas de formação, cerca de 26 mil alunos espalhados em quatro campi em diferentes regiões da Colômbia, a Pontifícia Bolivariana tem a sede principal em Medellín, no coração do bairro Laureles desde 1936. Assim como a brasileira, a instituição de lá também é particular, mas como intercambista, Karine não precisa pagar nenhuma taxa. O período letivo inicia mais cedo e, em janeiro, ela já estava frequentando as aulas. Na primeira semana, a brasileira sentiu o impacto da mudança de idioma. Para justificar eventuais falhas na comunicação, explicou aos professores que era estrangeira e que poderia demorar mais tempo para pegar o conteúdo ou acabar perguntando mais de uma vez. Para os docentes não foi um problema, Karine conta que eles seguiam as aulas normalmente e alguns tinham o cuidado de falar sobre assuntos mais importantes olhando em sua direção, para ter certeza de que ela estava entendendo. Aos poucos foi se adaptando à língua, impulsionada pelo cotidiano e pelas aulas de espanhol que também começou. No período em que frequentou o campus presencialmente, de janeiro a março, dividia a rotina de estudos entre duas disciplinas obrigatórias e algumas aulas da pós-graduação. O que acha bem interessante, já que no Brasil, normalmente, apenas alunos que já possuem diploma de graduação podem participar de disciplinas da pós.

Além da barreira do idioma, Karine identificou outros contrastes entre o ensino de lá e o do Brasil. A relação dos professores com os alunos, na visão dela, é mais distante do que a que vivenciou com professores no Brasil. Opinião que uma colega suíça não compartilha. A brasileira lembra que na primeira semana de aula andava acompanhada da também intercambista que ficou surpresa com o nível de proximidade de professores e estudantes ao observar uma docente cumprimentar uma aluna pelo nome. Outra diferença que Karine observa é uma rigidez maior da instituição colombiana em relação a prazos. Segundo ela, não há uma tolerância em casos de atraso nas atividades e exemplifica: caso ficasse doente no Brasil, um email avisando o professor seria suficiente para justificar o atraso na entrega de um trabalho ou até refazer uma prova. Já na instituição colombiana é diferente.

— Tem um prazo e se você ficar doente é isso, você vai zerar e você aceita que zerou o teu trabalho. Eu achei isso meio ruim — ela comenta.

Fora das salas de aula, Karine enxerga uma cidade ainda fechada para os estrangeiros. Em conversas com seu professor de espanhol, foi alertada de que a falta de abertura pode ter ligação com a forma como Medellín foi formada: um povoado pequeno e tradicional que teve um crescimento muito grande em pouco tempo, mas que manteve pensamentos antigos. “Eles estão no processo de mudar”, comenta a brasileira. Ela também observa que, dentro de sua bolha, existe um conservadorismo em relação a algumas pautas. Na universidade, já ouviu de colegas comentários preconceituosos contra estrangeiros. Na rua, observa o julgamento em relação às vestimentas, principalmente as que mostram as pernas, o que ela associa com a influência religiosa. Assim como no Brasil, ela encontra na Colômbia “uma igreja a cada duas quadras”.

— No primeiro mês, a gente passava por duas igrejas até chegar na faculdade, e não era tão distante assim, tinha uma mulher que ficava todos os dias na porta da igreja dando alguma coisinha de pastoral. Nos dias em que eu estava de calça, ela me falava bom dia e nos dias em que eu estava de saia, ela não falava comigo. E eu passava literalmente todos os dias da semana na frente dela, ela sabia que era eu, né. E eu falava bom dia e ela não respondia. Então eles são muito religiosos ainda e isso afeta como um todo assim. Tudo o que você consegue imaginar de uma religião muito forte num lugar, aqui eles sofrem disso. 

Conversando com uma colega norte-americana de seu namorado, ela percebeu que a questão não estava restrita a ela. A mulher comentou que não se sentia confortável andando de bermuda ou saia na rua, sempre ouvia comentários que não conseguia entender dos homens e percebia olhares seguidos de cochichos entre as mulheres. Karine observa que as expressões de machismo e sexismo não ocorrem quando está acompanhada do namorado, mas sim quando está sozinha. É como se ela fosse uma obra de arte em exposição, porém, seu corpo não é um objeto público. 

Quando era recém-chegada, não costumava passar por esse tipo de situação pois sempre estava com Lucas, o que mudou na pandemia, quando cada um saía em um dia diferente. Por conta disso, relata como é complicado ir até mesmo ao mercado, próximo de sua casa, sem que receba comentários de homens. Ela destaca que esse tipo de situação também ocorre no Brasil, mas dentro do seu país parece que sabe como reagir ou a quem recorrer. Em terras colombianas, ela não dá muita bola, até porque não entende o que falam, mas como mulher e estrangeira se sente incomodada e limitada. 

Fora as observações e as vivências pessoais, no final das contas, Karine defende que os colombianos são muito mais parecidos com os brasileiros do que diferentes. Em geral, o povo nativo é apegado à família, receptivo, conversador, festeiro e gosta de aproveitar o que a cidade oferece de melhor. Em Medellín, por exemplo, os espaços e parques costumam lotar nos fins de semana. A estudante também nota algumas particularidades interessantes, que não repara em seu país de origem, como a fidelidade que eles mantêm com as suas raízes. Ela conta que a influência da cultura norte-americana, tão presente no Brasil, não é sentida por lá, já que os colombianos valorizam mais a cultura latina. 

— Eles são muito apegados às raízes deles e eu admiro muito isso neles. Eles não consomem música americana, por exemplo, só música latina. É tipo, uma coisa que eu acho um saco, porque eu não sou muito fã de música latina, mas eles realmente valorizam muito isso e não importam nenhum tipo de outra cultura nesse quesito. Usam real o que é feito por eles e são aficionados por isso e acho legal. Eles pegam muito os ritmos deles antigos, antes da colonização, são ainda apegados a isso... eles não pagam tanto pau para os Estados Unidos como nós pagamos. 

Karine e o namorado Lucas na Colômbia. Foto: arquivo pessoal

Karine e o namorado Lucas na Colômbia. Foto: arquivo pessoal

No primeiro dia de aula com a carteirinha da nova universidade. Foto: arquivo pessoal

No primeiro dia de aula com a carteirinha da nova universidade. Foto: arquivo pessoal

Registro do campus da universidade colombiana, quando ela ainda frequentava as aulas presenciais. Foto: arquivo pessoal

Registro do campus da universidade colombiana, quando ela ainda frequentava as aulas presenciais. Foto: arquivo pessoal

Karine em frente ao apartamento em que vivia em Medellín. Foto: arquivo pessoal

Karine em frente ao apartamento em que vivia em Medellín. Foto: arquivo pessoal

Antes da pandemia, registro dos intercambistas reunidos na universidade. Foto: arquivo pessoal

Antes da pandemia, registro dos intercambistas reunidos na universidade. Foto: arquivo pessoal

Um vírus e uma virada
em 180º graus

Photo by Flavia Carpio on Unsplash

Photo by Flavia Carpio on Unsplash

Quando planejaram a mudança, além da conclusão da graduação de Karine, o casal também colocou na lista de obrigações, explorar a cidade em que viveriam no próximo ano. Eles não contavam, porém, com a pandemia de covid-19 que afetou drasticamente os planos dos dois, uma virada de 180º, como ela descreve. A começar pelo isolamento social que frustrou as aventuras pela segunda maior cidade da Colômbia. Karine conta que tinha curiosidade em conhecer e explorar mais sobre a história de Medellín, que para ela é “incrível e bizarra ao mesmo tempo”. 

No começo de março, antes da pandemia, a estudante conseguiu comemorar o aniversário ao lado do pai, que viajou até o país e passou alguns dias por lá. Naquela semana, Karine e Lucas aproveitaram a companhia e passearam pela cidade, sem dar muita atenção às notícias. Foi o único período em que puderam turistar pela região. No dia 14, um dia depois do patriarca regressar ao Brasil, o governo colombiano decretou quarentena. 

— Foi meio confuso. A gente sabia que estava rolando [casos de covid-19 no mundo], mas foi aquela impressão de que vai passar um mês e tudo vai ter ido embora. E aí, todo mundo entrou em quarentena. Pegou bem o feriado na faculdade e aí quando a gente voltou já estava online. 

Ainda tentando assimilar tudo o que estava acontecendo, Karine precisou se adaptar ao ensino remoto ao mesmo tempo em que a faculdade se organizava na nova modalidade, assim como outras instituições mundo afora. Em abril, viu o presidente Iván Duque anunciar medidas mais rígidas para conter o avanço do vírus no país, com a implementação de um toque de recolher à noite, fechamento de atividades não essenciais e adoção do Pico y Célula. Com essa última medida, a população tinha um dia específico para sair de casa, de acordo com o último número da cédula de identificação. Seu dia de sair era quinta-feira, com duração de uma hora, somente para ir aos mercados ou farmácias dentro do raio de um quilômetro. Naquela altura, ela aproveitava o tempo para sair um pouco de casa, já que chegou a ficar dois meses sem colocar os pés para fora para absolutamente nada, deixando Lucas encarregado das compras, tanto era o medo do vírus.

Longe das ruas de Medellín e da faculdade, Karine começou a sentir que a experiência não parecia mais um intercâmbio. A impressão era de que estava isolada no Brasil assistindo aulas em espanhol. Sem poder sair e conviver com pessoas de lá, ela só conversava com os amigos brasileiros, que naquela altura lhe faziam muita falta. A convivência se resumia à companhia do namorado. Em meio ao isolamento, o casal trocou o apartamento de 17 metros quadrados que viviam por outro um pouco maior, no mesmo prédio, já que ficou complicado dividir o pequeno espaço entre os dois. Mesmo sem divisórias, ganharam um espaço com uma janela com vista para rua e uma mesa, que antes não tinham. A brasileira brinca que nas vezes em que precisava ficar sozinha recorria ao único ambiente com porta: o banheiro. Ainda que precisassem de momentos de fuga, eles aproveitavam a companhia um do outro e Karine reconhece que sem Lucas teria sido bem pior permanecer no país estrangeiro em meio à quarentena. Juntos, eles cultivam as atividades caseiras, como maratonar filmes e séries, uma vez que o principal lazer do casal se tornou inviável. Com as medidas restritivas, eles ficaram impedidos de realizar o turismo gastronômico pela cidade colombiana. De forma descontraída, a estudante conta que eles têm um objetivo de vida que vai além das viagens: provar TODOS os restaurantes possíveis!

— A gente gosta muito de comer. Tipo, todo mundo fala que gosta de comer, mas a gente tem um objetivo de vida que é provar todos os restaurantes possíveis que a gente puder. Então, a gente veio e nosso lazer era basicamente ir em restaurantes, até porque é muito barato. A gente saía para fazer turismo gastronômico e conhecer alguns pontos turísticos de Medellín, como a Comuna 13, alguns museus e parques.

Considerada um dos pontos mais violentos da cidade no passado, a Comuna 13 é hoje um ponto turístico. Foto por Néstor Morales on Unsplash

Considerada um dos pontos mais violentos da cidade no passado, a Comuna 13 é hoje um ponto turístico. Foto por Néstor Morales on Unsplash

No decorrer dos meses, Karine foi se adaptando no turbilhão de mudanças. Concluiu remotamente o primeiro semestre e, em julho, depois de um mês de férias, deu início ao último semestre da graduação. Naquele segundo semestre do ano, se dividiu entre assistir virtualmente às aulas, enquanto também escrevia seu Trabalho de Conclusão de Curso. Como intercambista, ela não pôde escolher sua orientadora, que foi designada pela faculdade por saber inglês, o que poderia facilitar a comunicação. Com a orientação definida, ela precisou escolher um tema dentro da linha de pesquisa da professora, o que a levou a escrever uma monografia (em espanhol!) sobre os contrastes culturais existentes entre a China e os Estados Unidos que influenciaram a guerra comercial entre os países. 

Conforme o tempo ia passando, a ideia de permanecer no país até dezembro foi dando espaço à vontade de voltar logo ao Brasil. O retorno ocorreu em outubro, quando as fronteiras internacionais foram reabertas. Para Karine, a experiência internacional acabou sendo afetada pela pandemia. Ela, que é comunicativa e gosta de estar cercada de pessoas, não conseguiu criar laços com colegas e com a cidade que escolheu para morar. Dessa forma, avalia que o isolamento em Medellín serviu para valorizar ainda mais o Brasil, “desde o pão de queijo até a velhinha que te cumprimenta na rua”. Os amigos brasileiros, no entanto, não entendiam muito o desespero para voltar logo para onde estava habituada.

— Eles ficavam "não tem nada no Brasil agora, por que você quer voltar? A gente tá no desastre" e eu fico tipo: vocês não sabem a maravilha que é estar em lugar que tem feijão, no lugar que você sabe a língua das pessoas, que a cultura é a mesma que a sua.

De volta a Curitiba, Karine concluiu as disciplinas e apresentou o TCC de forma remota. Com o diploma em mãos, conseguiu um novo trabalho na mesma área em que atuava antes de ir para Medellín: recursos humanos. Agora em casa, ela não pensa em uma nova mudança tão cedo, mas sabe que futuramente o casal vai voltar para as terras de Gabriel García Márquez a passeio para explorar a gastronomia colombiana.